Jogando em Inglês: uma proposta de integração entre Educação Física e Língua Inglesa
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Mediante uma pandemia generalizada e a suspensão das aulas presenciais por todo o mundo, as Atividades Remotas surpreenderam a todos nós, que estávamos habituados ao ensino presencial. Ao pensarmos as Atividades Pedagógicas Não Presenciais (APNP), modelo adotado pelo IFPR, fomos levados a pensar, também, na carga horária do aluno e na sua sobrecarga diante de todos os componentes. Face a isso, uma sugestão foi a adoção de atividades integradoras.
Ao propormos atividades integradoras, nossa intenção principal é a de possibilitarmos aos nossos estudantes a compreensão de que os componentes curriculares não estão “isolados” no mundo, mas que estão relacionados entre si. Face a isso, propor a integração curricular de dois componentes “tão distantes” possibilita problematizar aspectos que, por vezes, estariam velados em algum componente. Assim, pensamos, inicialmente, em juntar Inglês e Educação Física, componentes ministrados pelas professoras Jéssica Paula Vescovi e Vera Azambuja, respectivamente, propondo a atividade integradora “Xadrez com Inglês” para alunos do 1º ano do curso técnico em administração e em cooperativismo do campus avançado Coronel Vivida. Vale ressaltar que, no primeiro momento, pensávamos que o isolamento não seria tão duradouro e que, em junho, estaríamos com aulas presenciais novamente. Desta forma, pensamos que o xadrez seria o mais fácil de ser trabalhado on-line, até pela possibilidade de jogos em diferentes plataformas e aplicativos já serem comuns e acessíveis, o que possibilitaria a prática por parte dos estudantes, visando, pois, um estudante ativo no processo de ensino aprendizagem via atividades remotas.
Os conteúdos de educação física versavam sobre o histórico do jogo, o movimento das peças e regras básicas, estratégia e súmula da partida. Dialogando com o componente de Educação Física, houve a apresentação do nome das peças e das direções utilizadas em língua inglesa, assim como houve a aplicação dos verbos modais em situações de jogo, de modo que buscou-se apresentar as múltiplas possibilidades de jogo e de mobilidade das peças, todas associadas aos verbos modais.
É válido ressaltarmos que todo o material foi pensado para alunos com diferentes acessos à internet e diferentes preferências de aprendizagem. Desta forma, o conteúdo era apresentado em vídeo e em texto bilíngue. Os conteúdos foram construídos em conjunto, de modo que o xadrez reforçava o inglês e o inglês reforçava os conteúdos de xadrez. Ao longo das semanas, os alunos foram avaliados por meio de fórum e questionários, sempre inserindo as perguntas do inglês no contexto do xadrez ou respondendo aos movimentos possíveis do xadrez em inglês. Desta forma, podemos dizer que tanto a atividade quanto o processo avaliativo ocorreram de maneira integrada.
Findado o primeiro ciclo de atividades remotas, pandemia agravada no Brasil e as aulas não retornaram. Então, avaliamos que a integração tinha sido positiva face ao rico diálogo ocorrido entre os componentes e a mantivemos para a segunda APNP, compreendendo, agora, dois meses.
Para este período, escolhemos trabalhar com a diferença do jogo e esporte, jogo cooperativo e competitivo e a criação de jogos. De início, houve a apresentação da diferença entre os conceitos, sendo enfatizado que, na língua inglesa, as mesmas palavras, no caso game e to play, podem ter significados que precisam ser compreendidos pelo contexto, o que nos levou a propor uma interessante reflexão entre o uso destas palavras em língua portuguesa e em língua inglesa, o que pode ser fortalecido graças ao contato com o componente de Educação Física. É importante ressaltarmos que, mais uma vez, os conteúdos foram disponibilizados em vídeo e texto, sendo possível a escolha pelo aluno.
Mediante o trabalho com a diferenciação entre os conceitos supracitados, trouxemos à tona, então, exemplares do gênero discursivo “Regra de jogo” em língua inglesa, de modo a evidenciarmos as características, em especial, estilo e composição, deste texto. Na intenção de consolidarmos o trabalho com aspectos linguísticos, apresentamos o tempo verbal futuro e o uso do modo imperativo em passagens do texto, evidenciando aos estudantes marcas do estilo deste gênero discursivo, além, é claro, de evidenciarmos aspectos lexicais, deixando claro que estes poderão ser específicos de cada jogo.
Face à apresentação e o diálogo estabelecido previamente entre os componentes, como trabalho avaliativo principal, os alunos foram convidados a criar um jogo,individual ou em grupo, e descrever suas regras, de modo que as características do gênero fossem seguidas. Ao criar o jogo, os alunos deveriam pensar no objetivo do jogo e, por consequência, se este era competitivo ou cooperativo, também deveria pensar nas suas regras e construir o material a ser utilizado para a prática do jogo, quando fosse o caso. Pensar um jogo significa escolher. Escolher o que pode e o que não pode e avaliar como isto influencia a jogabilidade. Além de exercitar a capacidade de prever situações, também estimula uma postura crítica sobre as regras dos esportes e jogos. As regras existentes são assim porque alguém num determinado momento optou por isso.
É importante ressaltarmos que solicitamos que o texto fosse construído em língua portuguesa e em língua inglesa, de modo que os aspectos linguísticos abordados previamentes estivessem presentes na construção. Acreditando, pois, que o texto, assim como a aprendizagem, é parte de um longo processo, o jogo foi sendo construído de modo que os alunos enviavam, via Ambiente Virtual de Aprendizagem, uma ideia do que gostariam de fazer e nós íamos fazendo sugestões de aspectos que poderiam aprimorar ainda mais o jogo, sendo que, mesmo nas versões mais elaboradas, íamos propondo perguntas em relação à jogabilidade e, de certa forma, à linguagem utilizada neste. O resultado dos jogos pode ser conferido nas imagens abaixo.
A proposição dessas atividades integradoras entre os componentes de Educação Física e Língua Inglesa para estudantes recém ingressos no ensino médio do IFPR e em tempos de pandemia diminui múltiplas distâncias: a “distância” entre os componentes; a “distância” entre teoria e prática; a “distância” entre professor e estudante; e, principalmente, a “distância” entre “aprender e fazer”.
Jessica Paula Vescovi e Vera Azambuja