Dia Nacional de Luta das Pessoas Deficientes é comemorado nesta sexta-feira
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Próximo da chegada da primavera e na mesma data em que se comemora o dia da árvore, o dia 21 de setembro foi escolhido pelas entidades que representam os portadores de necessidades específicas como a data em que se celebra a Luta das Pessoas Deficientes no Brasil. Instituída em 1982 e oficializada em 1995, com a publicação da Lei nº 11.133, a data pretende simbolizar o nascimento de uma nova consciência de respeito e busca pela cidadania e pela participação plena em igualdade de condições dos portadores de necessidades específicas. Segundo dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui cerca de 45,6 milhões de pessoas que convivem com algum tipo de deficiência, o que corresponde a 24% da população do país.
De acordo com a Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiências, de 1975, o termo “pessoas deficientes” refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência, congênita ou não, em suas capacidades físicas ou mentais. As pessoas deficientes têm os mesmos direitos civis e políticos que outros seres humanos, bem como o direito a medidas que visem capacitá-las a tornarem-se tão autoconfiantes quanto possível. Têm direito de ter suas necessidades especiais levadas em consideração em todos os estágios de planejamento econômico e social.
Inclusão e educação
O paradigma da inclusão de pessoas com deficência foi uma conquista recente na caminhada dos portadores de necessidades específicas ao longo dos séculos. Antigamente, pessoas com deficiência eram vistas como incapazes e excluídas do convívio social até mesmo pelos próprios familiares. Foi apenas no final do século XX que o paradigma da Integração, que preconizava a adaptação do deficiente ao meio social, deu espaço ao entendimento que cabe ao meio social adaptar-se e dar condições para que o deficiente possa se integrar à sociedade.
O IFPR, assim como outras instituições de ensino, tem como dever propiciar aos portadores de necessidades específicas a inclusão por meio da educação. Mais que garantir o acesso – a instituição reserva cinco porcento das vagas em processos seletivos aos candidatos portadores de necessidades específicas, cabe à instituição dar condições para a permanência e êxito desses estudantes. Para auxiliar os estudantes e servidores portadores de deficiência, o IFPR criou em 2012 os Núcleos de Apoio às Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNE). Os Napnes têm como objetivo sensibilizar a comunidade acadêmica dos câmpus para a temática da inclusão além de auxiliar a instituição na preparação para o recebimento dessas pessoas. Além disso, cabe aos Napnes estabelecer contato com outras instituições que já tenham experiência nas questões de acessibilidade para estabelecer parcerias.
De acordo com a Coordenadora Geral do Napne no IFPR, professora Evelise Dias Antunes, a data de hoje é também um convite para que todos abracem a causa da inclusão. “É uma oportunidade para mudanças em relação à inclusão dos portadores de necessidades específicas no ambiente educacional e profissional, desde a quebra de barreiras atitudinais até mesmo auxiliar na construção da inclusão até em questões da acessibilidade física e capacitação de professores para o trabalho em sala de aula”, afirma.
No dia 02 de outubro, o Napne do Câmpus Curitiba promove uma mesa redonda sobre processo seletivo acessível, legislação e inclusão de pessoas com deficiência. Mais informações podem ser encontradas no site https://napneifprcuritiba.wordpress.com/eventos/.
Superando limites
Cega há oito anos, a servidora Rosa Maria Barbosa da Silva, de 37 anos, sabe muito bem o que significa adaptar-se. A noticia de que ficaria cega chegou aos 29, após o diagnóstico de um quadro de glaucoma agudo. A cegueira veio depois de um ano e quatro cirurgias para tentar reverter o quadro. Segundo a servidora, ao choque inicial de perder a visão segui-se um período de adaptação. “Fui procurar fazer os cursos de informática para trabalhar com os programas que tornam acessível o conteúdo visualizado na tela do computador. Fiz um curso de Braille. Quando eu perdi a visão, estava me preparando para entrar na universidade. Aí eu tive que parar tudo. Aí foi um longo período de tempo para tentar se habituar a nova vida”, conta.
Em 2010, Rosa foi aprovada para o cargo de Assistente em Administração em concurso público realizado para o IFPR. Desde então, trabalha na Diretoria de Tecnologia de Informação e Comunicação (DTIC). Com o auxílio de um software que lê as informações que aparecem no écrã, a servidora encaminha os pedidos que chegam à Diretoria por meio do serviço de helpdesk, além de criar e desativar contas de e-mail dos servidores. Em 2012, Rosa venceu mais uma etapa: concluir o curso superior de Tecnologia em Processos Gerenciais. O curso, realizado na modalidade à distância, apresentou grandes desafios. “A matéria que eu tive mais dificuldade foi estatística, por causa dos gráficos e tabelas, que não eram lidos pelo programa de computador. Muitos dos professores ainda não são capacitados para ensinar para estudantes com necessidades especiais. Cheguei a reprovar na matéria. Mas em julho de 2012, foi a minha colação. Foi a conclusão de uma etapa, um sonho, de fazer um curso superior”, relata.
Apesar da independência conquistada na vida acadêmica, profissional e pessoal – ela cuida da família e do filho de pouco mais de um ano, ainda existem barreiras que precisam ser vencidas. “Meu desafio maior é tentar mostrar para as pessoas que eu sou um ser pensante, que eu tenho capacidade, que não é porque eu não enxergo que eu não percebo as coisas e que eu não posso fazer mais, até mesmo dentro do próprio IFPR”, revela.
Já, as barreiras enfrentadas pela atleta e servidora Josiane Poleski, portadora de deficiência auditiva, vão mais além dos horizontes profissionais e acadêmicos. Integrante da equipe feminina de futsal da Associação de Surdos de São José dos Pinhais (ASSJP), a dificuldade está em romper os limites impostos pelo preconceito que a impede de encontrar patrocínios para o time e para as atletas. “Infelizmente hoje em dia acontece muito isso ao meu redor e ao redor de surdos, mas não desistimos nunca de lutar até conseguir as parcerias”, afirma. A atleta começou a treinar ainda criança, aos cinco anos de idade, na Escola Especial de Surdos. Em 2011, ela integrou a seleção brasileira de futsal no 3o Campeonato Mundial para Surdos, realizado na Suécia. Para a atleta, a inclusão promovida pelo esporte vai além das deficiências físicas. “Sempre incentivo outras pessoas a praticarem o esporte pelo bem-estar, evitando, assim, que elas fiquem marginalizadas nas ruas, à mercê de perigos como as drogas ou a violência”.