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[Notícia publicada em 29 de julho de 2016] O IFPR está presente em 25 campi, em diversas regiões do estado. Os projetos desenvolvidos nos cursos procuram observar a realidade local, respeitando suas especificidades sócio-político-culturais. Um exemplo é o “Projeto Siri Mole”, do Campus Paranaguá, que teve inspiração em pescadores.
Diagnosticada a demanda, um grupo de professores decidiu aliá-la à criatividade de estudantes do IFPR e da UFPR, e assim nasceu, em 2015, o projeto, tendo continuidade este ano.
“Os siris são importantes recursos pesqueiros em diversos países, incluindo o Brasil. Porém, a pesca extrativista é ainda o meio preponderante de obtenção dessas espécies. No Paraná, os siris têm importância principalmente para a parcela mais carente da população de pescadores, pois sua pesca não demanda equipamentos sofisticados, nem grandes embarcações”, explica o professor Leandro Angelo Pereira, professor do curso técnico em Meio Ambiente do Campus Paranaguá e coordenador do projeto no Instituto.
Com isso, o “Projeto Siri Mole: ciência e tecnologia aplicada ao desenvolvimento de um novo produto para a aquicultura brasileira” tem como principal objetivo desenvolver e adaptar tecnologias ainda não empregadas no Brasil, que permitam criar um modelo econômico e sustentável ambientalmente de produção de “siris moles”, agregando valor, aumentando a eficiência do processo e desenvolvendo um novo produto para ser explorado pela aquicultura brasileira.
De acordo com Leandro, embora, em várias partes do mundo, o cultivo de siris seja uma prática muito comum, a maioria deles ainda é retirada de estoques naturais. Por esse motivo, a ideia do projeto está relacionada com a busca de uma forma mais sustentável de obtenção do siri mole.
Mas o que é o siri mole? Trata-se da fase logo após o animal realizar a muda; nesse período, ele pode ser consumido por inteiro, sem desperdícios – além de ser higienicamente mais adequado, pois dispensa o descarne. É um processo tecnicamente complexo, e, no caso do consumo, para se chegar a um bom produto final, é necessário melhorar as técnicas de estocagem em cativeiro e manejo, realizar estudos de alimentação, de gatilhos que levam os siris a realizar a muda, além de conhecer seu comportamento num sistema fechado.
O “Projeto Siri Mole” foi estruturado em três etapas fundamentais: a primeira foi o desenvolvimento de tecnologias e a avaliação dos potenciais técnicos, biológicos e ecológicos que as espécies nativas do litoral paranaense possuem para o cultivo comercial, sendo feita a seleção da mais apta para esse fim. Tem-se, no momento, a espécie Callinectes ornatos como a mais promissora.
A segunda etapa está centrada no desenvolvimento da tecnologia necessária para a produção em laboratório, em larga escala, de formas jovens das espécies com maior potencialidade para aquicultura. Comparando o sistema da Zhongkehai, cujo preço estimado gira em torno de U$10.000,00 a U$15.000,00, o protótipo brasileiro construído e testado possui tamanho, dimensões e características semelhantes ao concorrente, porém com um grande diferencial: o preço. Nos resultados preliminares, o protótipo custou em torno de R$2.276,65 a R$6.179,00. A redução de valor foi possível devido à criatividade dos estudantes envolvidos para a adaptação técnica de alguns itens, como o uso de policloreto de vinila, filtros adaptados e bombas nacionais, associados com a redução de impostos de importação.
A próxima etapa, ainda a ser realizada, é testar a durabilidade do equipamento e o aumento de escala em bases técnicas e ambientalmente sólidas.
Para Leandro, os resultados já encontrados são animadores e indicam que o siri mole pode ser visto como grande diferencial no mercado. “Para se ter uma ideia do potencial, o quilo da carne de siri é de R$30,00; do siri mole, por sua vez, pode chegar a R$ 100,00”, explica o docente.
O que se espera, ao final de 2018, é um novo equipamento para o cultivo de siri e a consolidação de um novo produto – o siri mole – no mercado interno, atrativo tanto para grandes empresários quanto para pequenos aquicultores brasileiros – e, com isso, o aperfeiçoamento técnico dos estudantes envolvidos.
Grande parte dos experimentos, incluindo a produção experimental, é realizada em dois locais: no Laboratório de Pesquisas com Organismos Aquáticos e no Centro de Aquicultura Marinha e Repovoamento (Camar). Os siris utilizados no projeto são os que seriam descartados pelos pescadores de camarão, os quais são retirados e transportados com cuidado para um dos laboratórios. Logo após sua chegada, é feita a identificação da espécie, a sexagem e a biometria individual (peso e tamanho), para, em seguida, serem direcionados para os experimentos.
Para a produção experimental, é utilizado como referência o sistema Soft Shell Crab Farming (ou “Cultivo da Carapaça Mole do Siri”, em tradução literal), da empresa Zhongkehai, produzido na China. Trata-se de um sistema fechado, feito de polipropileno, com skimmer e filtro biológico, ocupando uma área de dois metros quadrados, capaz de armazenar 1.000 siris. A partir desse modelo, o grupo adaptou várias peças com o objetivo de manter sua produtividade e reduzir os custos. Aqui nesta foto pode-se conferir um miniprotótipo do local tubular onde os invertebrados são armazenados.
O estudo contribui com duas linhas principais, uma em curto e outra em longo prazo. A primeira inclui os siris que vão para os experimentos, pois o projeto trabalha com o aproveitamento dos siris que são pegos na pesca de arrasto para camarão. Ou seja, o “lixo” para os pescadores – que gera um sério problema de resíduos nas comunidades, – é a base fundamental para a equipe, que utiliza os animais para o levantando de dados e informações.
Já em longo prazo, com a consolidação das técnicas do cultivo e a obtenção do siri mole, espera-se que os pescadores ou as comunidades que trabalham com siri consigam realizar essas mesmas técnicas e, assim, disponham desse recurso sem precisar pescá-lo no ambiente. Dessa forma, reduzir-se-á a pressão dos bancos naturais de siris no mar e nos estuários.
O “Projeto Siri Mole: ciência e tecnologia aplicada ao desenvolvimento de um novo produto para a aquicultura brasileira” é realizado com apoio financeiro do CNPq e executado através de parceria entre o Campus Paranaguá do IFPR – especificamente o professor Leandro Angelo Pereira – e o Grupo Integrado de Aquicultura e Estudos Ambientais (GIA/UFPR), contando com a participação direta dos professores Antônio Ostrensky e Ubiratã Assis da Silva, ambos da UFPR. Além dos servidores, o projeto também possui uma série de bolsistas de Ensino Médio, Ensino Superior e pós-graduação de ambas as instituições:
Alinie Selenko – Técnico em Meio Ambiente (Ensino Médio) – IFPR;
Edymari Gonzaga – Técnico em Meio Ambiente (Ensino Médio) – IFPR;
Lauriza Silva – Técnico em Aquicultura (Ensino Médio) – IFPR;
Matheus Kael dos Santos – Técnico em Meio Ambiente (Ensino Médio) – IFPR;
Maria Eduarda Vicente – Técnico em Meio Ambiente (Ensino Médio) – IFPR;
Amanda Cristina Albuquerque – Engenharia Ambiental (graduação) – UFPR;
Suelen Chagas – Especialização em Gestão Ambiental (pós-graduação) – IFPR;
Camila Tavares – Mestrado em Zoologia (pós-graduação) – UFPR;
Diogo Hungria – Mestrado em Zootecnia (pós-graduação) – UFPR.
De acordo com o professor Leandro, a indissociabilidade entre ensino e pesquisa foi pensada desde o início da proposta que seria submetida ao CNPq. “Ao associarmos o ensino e a pesquisa, ganhamos terreno em frentes como a tecnologia de ponta, e este é o objetivo final do projeto: desenvolver tecnologias sustentáveis para a aquicultura”, afirma o docente.
Na prática, esse discurso se dá através dos bolsistas envolvidos, que levantam informações, dados e vão a campo conversar com os pescadores e comerciantes de siri. Segundo o professor, o envolvimento direto dos alunos a partir desse diálogo, mediado pelos orientadores, resulta nas novas possibilidades de pesquisa e um estímulo para a formação de futuros cientistas.
“Todo trabalho desenvolvido é formalizado através dos TCCs, das dissertações, dos resumos para congressos, apresentações de protótipos em feiras de ciência e outros eventos acadêmicos”, pontua o professor, ressaltando que é difícil separar o que é ensino do que é pesquisa dentro das atividades. “Porém, todos eles têm o mesmo ponto central: que estejamos formando pessoas com capacidade técnica para resolver os gargalos, problemas e as demandas da sociedade”, conclui.