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Cerca de 20 educandos do Curso Técnico em Aquicultura e Pesca do Instituto Federal do Paraná, Campus Paranaguá, participaram de uma atividade diferente. Os estudantes foram a campo para conhecer a realidade dos pescadores que vivem na Ilha das Peças, localizada entre a Ilha do Mel e o Parque do Superagui. A atividade antecedeu as comemorações do dia do pescador realizada no último sábado, dia 26.
A prática faz parte de uma atividade chamada Comunicação Aquícola: “É uma aula prática no território, no local onde os pescadores estão. O objetivo é aproximar os estudantes desses pescadores para que conheçam, troquem experiências e contribuam ”, explica o professor Otávio Bezerra Sampaio, coordenador do Núcleo Sul III de Pesquisa em Pesca e Aquicultura.
Para o professor, atividades como esta reforçam a necessidade de um projeto como o “Barco Escola” – que permitiria fazer todas as aulas na própria comunidade e transitar com facilidade pelas Ilhas. Com o Barco Escola o que hoje é uma atividade diferenciada se tornaria rotina para o curso. Além de Sampaio, a turma foi acompanhada pela nova professora de aquicultura do IFPR, Nicole Pistelli Machado.
Além de observar como vivem os pescadores a turma pôde conhecer detalhes históricos da região contados pela pescadora e aluna do curso, Leonor Gomes Pereira Cordeiro. Leonor e a irmã, também aluna do IFPR, Dirceia Gomes Pereira de Souza, são da Ilha do Mel e integrantes da Associação de Nativos e Pescadores da Ponta Oeste. Durante o trajeto, Leonor falou sobre a importância do curso de aquicultura. “Acho que o curso vai ajudar porque a maioria dos pescadores do nosso litoral não conhece aquicultura e acabam trabalhando apenas com a extração”, explica.
Leonor é uma multiplicadora de conhecimento: “Quando terminei o curso de pedagogia ajudei a alfabetizar 11 pescadores da região. Já avisei alguns que assim que acabar o curso de aquicultura vamos nos reunir para eu repassar o que aprendi”, conta. Para Leonor, ao contrário do que muitos pensam, os pescadores querem sim estudar para melhorar de vida.
Atualmente cerca de 250 pessoas residem na Ilha das Peças e grande parte trabalha com turismo, explicou o pesquisador e morador da Ilha Fernando Luiz Brock. Fernando é biólogo e mora na Ilha há 8 anos quando mudou-se para iniciar uma pesquisa sobre o comportamento dos golfinhos. “Ao chegar na Ilha vi que a demanda era outra então adaptei a pesquisa à realidade local”. Hoje Fernando é o diretor da escola e respeitado pela comunidade como alguém que contribui para o desenvolvimento da região. Durante a visita os estudantes também conversaram com o Presidente da Associação dos Pescadores, Wilson Muniz Pereira, que falou sobre as dificuldades da atividade pesqueira no litoral.
Ao término da visita houve uma avaliação coletiva em que cada estudante expôs aos demais seus apontamentos sobre a saída de campo. De forma geral os alunos indicaram a necessidade de um debate mais próximo da comunidade, mais aulas práticas, com a elaboração de projetos que levem em conta as opiniões e necessidades dos próprios pescadores. Além disso, ficou clara a urgente necessidade de acesso direto dos pescadores aos cursos oferecidos na área de pesca e aquicultura.
Potencial
O potencial do Brasil na área de pesca e aquicultura é um dos elementos fundamentais que vem pautando reivindicações de pescadores em todo o Brasil. O país dispõe de uma costa com 8,4 mil quilômetros e aproximadamente 5,5 milhões de hectares de lâmina de águas continentais, como rios lagos, lagoas, açudes etc. A China, que tem uma costa menor que a nossa, produz 55 milhões de toneladas de peixe por ano, enquanto o Brasil produz apenas 1 milhão de toneladas anualmente.