ensino

IFPR participa da organização do 2º Simpósio Internacional de Didática da História e da fundação da Rede Brasileira de Didática da História

Publicado em

Evento reuniu 38 pesquisadores e pesquisadoras, de 7 países, com mais de 1800 inscritos e público ativo de mais de 900 pessoas

Texto enviado pela coordenação do evento

No início de novembro, ocorreu o 2º Simpósio Internacional de Didática da História, evento intitulado em 2024 como “Por uma Didática da História Latino-americana”. A apresentação do evento em 2024 deu o tom das discussões. O 1º Simpósio Internacional de Didática da História – “O Futuro da Didática da História” ocorreu em 2022 e objetivou congregar pesquisas e trabalhos, sob diferentes pontos de vista, acerca da Didática da História e suas relações com as teorias da história e as aprendizagens históricas.

Neste 2º Simpósio Internacional de Didática da História, esperávamos alcançar novas perspectivas. As diferentes maneiras como o passado é acessado na vida em sociedade, mediado por interesses, carências, demandas e projetos que partem do presente, geram desafios de muitas ordens para aqueles que se preocupam com os processos de geração de sentido e significado com base na História, sobretudo quando se pretende defender valores humanos, humanistas e a permanência da vida. Diante de catástrofes que precisam passar por processos de compreensão, a História frequentemente é cobrada ou mobilizada para que a vida possa ser vivida sem maiores desassossegos.

Quando nos referimos a catástrofes, podemos pensar em elementos que envolvem a relação da sociedade capitalista com o meio ambiente, como os desastres que envolveram a barragem de Brumadinho (25/01/2019). Podemos ainda refletir sobre relações entre elementos de identidade e identificação que nos provocam a pensar a relação entre Histórias mais localizadas e suas conexões com o que chamamos de História Geral, por exemplo, diferentes configurações de poder e suas relações com blocos econômicos, como o Mercosul ou a União Europeia. Ou ainda, perseguições étnicas, que resultam em mortes ou genocídios, seja entre garimpeiros e diferentes sociedades indígenas, seja nos horrores atuais em Gaza.

Como acionamos os conhecimentos históricos diante desses desafios? Que relações existem entre histórias mais abrangentes e contextos locais? Que processos de sentido são possíveis ou necessários? Contra quem e a favor de quem se produz conhecimento histórico? Os conhecimentos históricos possuem a efetividade que a História cobra para a melhoria da vida? O que é possível fazer para melhor alcançar nossas pretensões com os conhecimentos históricos?

Os organizadores do evento acreditam que a História, como parte da vida humana em sociedade, precisa manter e aprofundar as conexões com as realidades nas quais está inserida. Dessa maneira, compreendemos que a Didática da História, como parte da Ciência Histórica, possibilita reflexões sobre as diferentes formas de relação com a História, seja pensada, vivida, pesquisada ou ensinada. E que, embora existam discussões e diferentes nomenclaturas para essas relações (ensino de História, Didática da História, Educação Histórica), há unidade no objetivo de proporcionar momentos de pensabilidade histórica que auxiliem no processo de emancipação humana (seja de indivíduos, grupos ou classes).

Assim, seja para aderir ou não às críticas decoloniais, epistemologicamente falando; seja para derrubar ou fazer a manutenção de monumentos, teórica e praticamente falando; seja para recusar ou aderir a currículos, é no âmbito da Didática da História que podemos encontrar e realizar discussões mais adequadas às necessidades da vida humana em sociedade, no que tange a relação entre sociedade e história como conhecimento. Diante dos desafios que se colocam, elencamos o tema “Por uma Didática da História Latino-Americana” como provocações aos debatedores e ouvintes de nosso 2º Simpósio Internacional de Didática da História. Agora disponível para quem quiser acessar através do canal do YouTube do PPGH – UFG (https://www.youtube.com/@ppgh-ufg9573/streams  acesso em 04/12/2024).

Neste sentido, nossos convidados e convidadas puderam oferecer reflexões e contribuições aos debates mais candentes de nossa sociedade. Em um evento que se pretendeu conectado aos elementos mundiais, mas que se organiza e debate a partir do sul global. Deixamos alguns questionamentos para serem enfrentados coletivamente na sequência das discussões: há espaço para uma didática da História Latino-Americana? Que ganhos podemos ter a partir desse recorte? Ou ainda, quais críticas essa definição pode mobilizar? Convidamos todas e todos assistirem os debates ensejados. A intenção final, podemos apontar, foi trazer algumas contribuições que possam melhorar as relações de ensinar, aprender e refletir sobre a produção e circulação dos conhecimentos históricos na sociedade contemporânea. 

Confira a programação e os vídeos do evento:

Na segunda feira, dia 04/11/2024 contamos com as seguintes mesas (manhã e tarde) e conferência de abertura (a noite):

Mesa 1 – Jovens pesquisadores em Didática da História (manhã)

Jannaiara Cavalcante (UNEAL); Lidiane Friderichs (UEMA); Amanda Nunes (UFPEL); Roberta Duarte (UFPE) (Mediadora)

Mesa 2 – Didática da História e Teoria da História (tarde)

Arthur Assis (UNB); Rafael Saddi (UFG); Luiz Sérgio Duarte (UFG); Márcia Teté (UEM) (Mediadora)

Conferência de abertura (noite)

Paulina Latapi (UAQ – México); Arnaldo Szlachta (UFPE) (Mediador)

Na terça feira dia 05/11/2024 tivemos a continuidade do evento com mais três mesas de debates, uma em cada turno:

Mesa 03 – Didática da História e Ensino de História: experiências nacionais e internacionais 

Nilson Javier Ibagón Martín (UNIVALLE / Colômbia); Marlene Cainelli (UEL); Sebástian Molina Puche (UM/Espanha); Wilian Bonete (UFPEL) (Mediador)

Mesa 04 – Dimensões da Cultura Histórica pela Didática da História

Eduardo Knack (UFCG); Arnaldo Szlachta (UFPE); Márcia Teté (UEM) (Mediadora) 

Mesa 05 – Didática da História e Educação histórica

Júlia Matos (FURG); Max Lânio Pina (UEG); Cristiano Nicolini (UFG); Arnaldo Szlachta (UFPE) (Mediador)

Na quarta feira do dia 06/11/2024 a programação seguiu nos três turnos novamente e contou com as seguintes mesas e interações do público:

Mesa 06– Didática da História em múltiplas temáticas

Dulceli Estacheski (UFMS); Aaron Sena (UFS); Luciano Azambuja (IFSC); Márcia Teté (UEM); (Mediadora)

Mesa 07 – Didática da História, afetividade e formação da consciência histórica

Josias Freire (UFG); Caroline Pacievitch (UFRGS);  Cristiano Nicolini (UFG) (Mediador)

Mesa 08– Didática da História, Usos do Passado e negacionismos

Wilian Bonete (UFPEL); Ana Paula Carvalho (UNILA); Osvaldo Rodrigues Junior (UFMT); Cristiano Nicolini (UFG) (Mediador)

Na quinta feira do dia 07/11/2024 a programação novamente seguiu pela manhã, tarde e noite. Além dos debates, foram muitas interações ao vivo no Chat do Youtube. Todas as informações ainda podem ser recuperadas nos links de acesso aqui disponibilizados.  

Mesa 09 – Didática da História e Formação de Professores

Jean Moreno (UEM); Renilson Rosa Ribeiro (UFSCAR); Thiago Divardim (IFPR); Wilian Bonete (UFPEL) (Mediador)

Mesa 10 – Didática da História e Decolonialidade: Experiências Latino-americanas

Janaina de Paula Espírito Santo (UEPG); Thiago Granja Belieiro (UNESP); Gabriela Vásquez (UNAB/Chile); Rafael Saddi (UFG) (Mediador);

Mesa 11 – Didática da História, aprendizagem em múltiplos espaços

Márcia Teté (UEM); Geyso Germinari (UNICENTRO); Lisiane Manke (UFPEL); Thiago Divardim (IFPR) (Mediador)

Por fim, na sexta pela manhã, tivemos uma assembleia para a fundação da REDE BRASILEIRA DE DIDÁTICA DA HISTÓRIA. E seguiu durante a tarde com a mesa 12, e posteriormente a conferência de encerramento, na noite de sexta.  

Mesa 12 – Didática da História: linguagens e fontes

Marcelo Fronza (UFMT); Rafael Freitas (UFMT); Sara Dias-Trindade (Universidade do Porto); Thiago Divardim (IFPR) (Mediador)

Conferência de encerramento 

Marisa Massone (Universidad de Buenos Aires / Argentina); Rafael Saddi (UFG) (Mediador)

Além da qualidade dos debates e do envolvimento de muitos pesquisadores e pesquisadoras, o evento proporcionou a fundação da Rede Brasileira de Didática da História. Confira:

Rede Brasileira de Didática da História

A Rede Brasileira de Didática da História foi constituída por um coletivo de pesquisadores e pesquisadoras que, ao longo de mais de duas décadas, têm se dedicado a investigar e refletir sobre o ensino e a aprendizagem da História. Sob uma perspectiva ampliada, a Didática da História é concebida como um campo investigativo voltado para a formação do pensamento histórico, as diversas formas de aprendizagem histórica e os múltiplos usos do passado. O campo ultrapassa os limites da sala de aula, abrangendo esferas sociais e culturais mais amplas.

Embora fundamentada em conceitos oriundos da tradição alemã da Geschichtsdidaktik — como Consciência Histórica, Cultura Histórica e Emancipação Histórica —, a Rede busca ir além da simples reprodução desses referenciais. O objetivo central é promover um diálogo interdisciplinar e plural, integrando diferentes áreas do conhecimento e considerando as especificidades e desafios da realidade brasileira e latino-americana. A proposta é articular conceitos, metodologias e experiências que dialoguem com a complexidade dos contextos históricos, sociais e culturais locais, em vez de seguir modelos rígidos.

A Rede se define como um espaço inclusivo, aberto a todos os pesquisadores que se identifiquem com o campo da Didática da História, sem imposição de normas ou diretrizes. Visa estimular debates colaborativos, fomentar trocas de ideias e oferecer suporte a investigações diversificadas no campo historiográfico. Entre seus propósitos está também o acolhimento de novos pesquisadores, incentivando reflexões sobre métodos e práticas docentes baseadas nos fundamentos da Didática da História. Adicionalmente, promove iniciativas como cursos de formação e encontros acadêmicos, a exemplo dos Simpósios Internacionais de Didática da História.

Com uma perspectiva global, a Rede valoriza o diálogo com pesquisadores de outros países e áreas do conhecimento, ampliando horizontes e enriquecendo as investigações no campo. Contudo, mantém como eixo central sua identidade como área de pesquisa no âmbito da Ciência Histórica, com foco em questões relacionadas ao ensino de História e às apropriações do passado, sem abdicar de compromissos com valores humanistas e democráticos.

A Rede Brasileira de Didática da História emerge, assim, como um projeto de fortalecimento e expansão das pesquisas sobre o campo no Brasil, almejando consolidar um ambiente de colaboração, inovação e reflexão crítica, tanto em âmbito nacional quanto internacional.

Arnaldo Szlachta

Cristiano Nicolini 

Thiago Divardim

Rafael Saddi

Marcia Teté

Wilian Bonete 

Curitiba, Goiânia, Recife, Maringá e Pelotas, 08 de novembro de 2024

Considerações após o evento

O evento proporcionou processos de aproximação de pesquisadores e pesquisadoras, assim como a ampliação dos debates, uma vez que além do público ter sido grande nas apresentações ao vivo, agora estão disponíveis para os interessados e interessadas a partir das gravações no Youtube. Além disso, os organizadores fizeram um perfil em rede social para divulgar elementos interessantes para o campo (https://www.instagram.com/didaticadahistoria/), se interessar, siga o perfil para receber noticias relacionadas a área de discussão. 

Uma das postagens, logo após o evento, dá a tônica do alcance dos debates:

(imagem postada no @didaticadahistoria)

O professor Cristiano Nicolini, um dos organizadores do evento e professor de Didática da História da UFG destacou a importância do evento:

O evento promoveu o encontro de diferentes perspectivas da Didática da História, evidenciando especificidades e aproximações entre projetos desenvolvidos em diferentes contextos nacionais e internacionais. É interessante perceber como essas leituras a partir dos referenciais teóricos resultam em propostas que, apesar das diferenças, se aproximam na intenção de pensar a aprendizagem histórica como possibilidade de mudança, dialogando diretamente com as demandas do tempo presente, mas sem perder de vista o conhecimento acerca do passado. (Cristiano Nicolini, Novembro de 2024)

Além dos elementos destacados por Nicolini, cabe dizer que na primeira edição do evento, eram três instituições envolvidas na organização e quatro professores. Em 2024, na segunda edição, ampliamos para 5 instituições (entre Universidades Federais, Estaduais e Instituto Federal). A ideia é que o grupo possa crescer à medida que a rede se fortaleça e os eventos continuem ocorrendo. 

Se você se interessou em participar das discussões, siga o perfil @didaticadahistoria no Instagram, ou escreva para didaticadahistoriabrasil@gmail.com

A comissão organizadora do evento aproveita para registrar os agradecimentos aos monitores que auxiliaram e permitiram a realização do evento, bem como o apoio das instituições. 

Monitores:

Roberta Duarte da Silva (Docente da UFPE)

Sabrina Thurow (Graduanda em História/UFPEL)

Patrick de Oliveira Colvara (Graduando em História/UFPEL)

Maria Vitória Israel Souza (Graduanda em História/UFG)

Isabela Almeida Gomes (Mestranda em História no PPGH/UFG).

Luiz Eduardo Barbosa Gonçalves (Mestrando em História no PPGH/UFG).

Comissão organizadora:

Prof.  Dr. Arnaldo Martin Szlachta Junior (Universidade Federal de Pernambuco / UFPE).

Prof. Dr. Cristiano Nicolini (Universidade Federal de Goiás / UFG).

Prof.  Dra. Márcia Elisa Teté Ramos (Universidade Estadual de Maringá / UEM).

Prof. Dr. Rafael Saddi Teixeira (Universidade Federal de Goiás / UFG).

Prof. Dr. Thiago Augusto Divardim de Oliveira (Instituto Federal do Paraná / IFPR, campus Curitiba).

Prof. Dr. Wilian Junior Bonete (Universidade Federal de Pelotas / UFPEL).

Texto: Thiago Augusto Divardim de Oliveira e comissão organizadora.