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Currículo Integrado revoluciona experiência de ensino em campi do IFPR

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Organizar o currículo a partir das experiências de aprendizagem vividas por estudantes e professores do Instituto Federal do Paraná (IFPR). Foi com esse ideal que os campi de Astorga, Colombo, Jaguariaíva e Londrina estruturaram seus cursos técnicos por meio do Currículo Integrado por Projetos.

“Em nossa proposta, procuramos ir além da integração de conteúdos, disciplinas, planos pedagógicos, objetivos de ensino e processos de avaliação desenvolvidos pelos docentes”, afirma Edilomar Leonart, Diretora-Geral do Campus Colombo. “Nossa maior preocupação foi organizar o itinerário formativo do campus de forma a trabalhar com as próprias experiências daqueles que dele participam e atuam”, explica. De acordo com Edilomar, a proposta é que, através da interdisciplinaridade, construa-se uma aprendizagem contextualizada, ou seja, baseada na relação do conteúdo com a vida real dos discentes. Nesse sentido, aspectos como a memorização são deixados de lado, em favor dos processos educativos de construção do conhecimento.

A professora Aline Renée dos Santos, Diretora-Geral do Campus Jaguariaíva, ressalta que, nessa abordagem, o protagonista é o estudante: “a Pedagogia por Projetos visa a um processo educacional no qual a atividade educativa é realizada por meio da pesquisa realizada pelo aluno, tornando-o protagonista de seu processo de aprendizagem”. Segundo a diretora, o professor exerce a função de mediador do processo. “Ele acompanha os estudantes na realização das atividades e os auxilia nos momentos de dificuldade cognitiva, sempre buscando a metacognição”, conclui.

O Currículo Integrado por Projetos na prática

A professora de Química Michele Rosset, do Campus Colombo, explica como a abordagem por projetos funciona no dia a dia da unidade: “Existe uma temática discutida previamente com o grupo de professores do campus, para que cada um consiga planejar de que maneira contribuirá com o tema.” Definida a temática, são propostas atividades que vão além da sala de aula, para que se proporcionem vivências diferenciadas aos estudantes.

Um dos temas já utilizados pelo campus foi “Água”. Pensando de que forma o assunto poderia ser abordado contextualmente, o grupo de docentes organizou uma visita à Gruta do Bacaetava, na região de Colombo. Lá os alunos tiveram a oportunidade de conhecer a história do local, características geológicas, fauna e flora da região. De forma transdisciplinar, eles desenvolveram atividades relativas à visita realizada e puderam aprender um pouco mais sobre a história de sua cidade. Na disciplina de Química, Michele abordou o processo de formação de estalactites e estalagmites – muito presentes na gruta -, que se dá por meio da ação da água da chuva nas rochas.

Em outro momento, em conjunto com a professora de Arte Camilla La Pastina, foi estudado o processo de formação da ferrugem, por meio da oxidação de metais. Em uma aula prática, os alunos presenciaram a oxidação da palha de aço (“Bombril”) com a ação da água sanitária. A professora Camilla aproveitou as palhas e outros objetos enferrujados para produzir quadros e telas com os discentes. Ao final das atividades, eles produziram um Relatório de Atividade Prática, que serviu como avaliação para ambas as disciplinas.

“Trabalhar com a metodologia por projetos é um desafio apaixonante”, diz a professora de Português e Inglês Patrícia da Silveira, do Campus Avançado Astorga. “Não só para nós, professores, mas também para nossos alunos, uma vez que proporciona o desenvolvimento da responsabilidade conjunta, o respeito mútuo e o crescimento humanístico de ambos os lados”, complementa. Umas das intervenções, realizadas pelos docentes da unidade, que Patrícia utiliza como exemplo de como a abordagem funciona na prática foi quando um grupo de alunos decidiu construir um motor de usina termoelétrica para poder estudar seu funcionamento. “Um dos objetivos específicos elencados no projeto era o estudo das diferentes formas de produção de energia elétrica. Buscamos por artigos acadêmicos sobre o assunto para leitura e análise. Durante a leitura, foram surgindo questionamentos dos próprios alunos, e os professores de Geografia, Física, Sociologia e Educação Física puderam contribuir. Foi uma manhã fantástica de trabalho!”, relembra a professora.

Rosa Amélia Barbosa, também professora do Campus Astorga, ressalta que o método rompe com a fragmentação das disciplinas, compreendendo que o estudante deve entender a complexidade da realidade de maneira que articule esses saberes. “Outro lema importante dessa proposta é que os estudantes desenvolvam a autonomia, que ‘aprendam a aprender’, através da mediação dos docentes na problematização dos saberes, investigação e construção do conhecimento”, pontua Rosa.

A diretora Aline Renée afirma que é indiscutível a receptividade dos pais quanto à formação curricular e metodológica do Campus Jaguariaíva: “Na visão dos responsáveis, seus filhos tornaram-se mais autônomos, não só nas atividades escolares, mas também no dia a dia, assim reforçando o que na escola é focalizado”. De acordo com Aline, nas reuniões da unidade, que são mensais, é comum os familiares ressaltarem o quanto a instituição é comprometida com a educação e formação dos estudantes. “Eles exaltam o quanto existe a parceria ‘escola-família’ e o alto nível de formação dos servidores que aqui atuam”, enfatiza a diretora.

Uma abordagem em aperfeiçoamento

“Não há mistério no Currículo Integrado por Projetos”, afirma o professor Ronald da Costa, do Campus Londrina. “O maior esforço é conseguir implementar tudo aquilo que, há séculos, se apregoa na escola pedagógica ocidental, notadamente no Brasil”, pontua. Segundo o docente, a ideia surgiu da inquietação de alguns servidores, com base no discurso do professor Amir Limana acerca da Rede Federal – quando da sua nomeação para a direção do Campus Londrina – , que identifica um desvio nos caminhos dos Institutos Federais.

Esse método se trata de uma construção coletiva, em constante aperfeiçoamento. No primeiro semestre deste ano, por exemplo, representantes do Campus Colombo realizaram uma visita à Escola Comunitária de Campinas, em São Paulo, que possui amplo histórico de trabalho por meio de projetos e cuja experiência pôde servir de base.

“São os projetos, como base da construção coletiva dos saberes, que garantem a transposição didática e a autonomia. Fora deles, não há salvação – não há autonomia onde prevalecem os conteúdos pré-determinados”, explica Ronald. Nesse sentido, um Currículo Integrado por Projetos consegue articular pontos importantes, constituindo-se numa rede de saberes para o desenvolvimento local e regional e proporcionando maior sentido no conjunto da experiência acadêmica e cidadã. “Tal é a equação do êxito dessa concepção metodológica, cujo objetivo, para além até do desenvolvimento subjetivo do cidadão, é, em última instância, o desenvolvimento de uma nação soberana com inclusão social e distribuição de renda”, conclui o professor.]]>