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Entre 2002 e 2010, a educação profissional cresceu 74,9% no Brasil. O país passou de 652 mil matrículas para 1,14 milhão. Os estudantes com formação em ensino médio profissionalizante ganham 12,5% a mais do que os que cursaram ensino médio comum. Os dados foram analisados por uma reportagem veiculada pela Gazeta do Povo no último sábado (6).
Leia, na íntegra, a matéria da repórter Bruna Maestri Walter:
Educação
Ensino técnico cresce 75% e garante salário maior aos alunos
A educação profissional cresceu 74,9% no Brasil entre 2002 e 2010, passando de 652 mil matrículas para 1,14 milhão no período. Enquanto a oferta de ensino médio regular se estabilizou no país nos últimos anos, o número de alunos nos cursos técnicos em nível médio está em expansão. Para especialistas, esses cursos proporcionam melhor qualificação profissional e se traduzem em maior empregabilidade e ganho salarial aos alunos.
Uma pesquisa feita pela Fundação Itaú Social mostrou que estudantes com formação em ensino médio profissionalizante ganham 12,5% a mais do que os que cursaram o ensino médio comum. A diferença é ainda maior para os alunos que optaram pela área de indústria, com um aumento de salário anual de 18,8%. Para os pesquisadores, o ensino médio técnico permite aos jovens entrar no mercado de trabalho sem ter de arcar com o tempo e o investimento de um curso superior.
Os custos na educação profissional, no entanto, são maiores na comparação com o ensino médio comum. A diferença de custo anual é de R$ 2.886,50, de acordo com a pesquisa, publicada em 2010. Para a gerente de Avaliação de Projetos do Banco Itaú, Lígia Vasconcellos, especialista em educação, o investimento maior compensa quando se analisa o ganho médio salarial. O ganho, porém, não se mantém quando a pessoa faz ensino superior, já que ela adquire rendimentos superiores. “[O ensino médio profissionalizante] é uma modalidade importante de ensino, mas não é única”, afirma.
Segundo Marcelo Machado Feres, coordenador-geral de Planejamento e Gestão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, as várias modalidades de ensino não são antagônicas e o objetivo é democratizar e ampliar as oportunidades em todas elas, incluindo o ensino superior. Feres afirma que a educação profissional é estratégica para o processo de desenvolvimento do país e que o número de vagas ainda está “aquém do que a sociedade precisa”.
Vantagens e desafios
O ensino médio regular é generalista e o técnico proporciona que o aluno chegue mais preparado ao mercado de trabalho, observa o professor Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas. Autor do estudo A Educação Profissional e Você no Mercado de Trabalho, Neri revela que o aluno do ensino médio profissionalizante tem um ganho de 14% na comparação com aquele que fez ensino médio comum. O estudo mostra ainda que os maiores ganhos são vistos nos egressos dos cursos no Sistema S, que são organizações criadas pelos setores produtivos. Em seguida aparecem os egressos do setor privado, de organizações não governamentais e do setor público.
A professora do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná Taís Tavares observa que há uma expectativa grande da população em ter acesso a cursos de formação técnica. No entanto, completa, a ampliação tem de vir acompanhada da qualidade. Ela observa que o curso precisa assegurar tanto a formação básica, garantindo o ingresso ao ensino superior, quanto a formação profissional. Há também a necessidade de que a formação técnica tenha vínculo com a atividade produtiva, diz a professora.
57% das vagas são privadas
A maioria das matrículas na educação profissional está na rede privada, o equivalente a 57%. O restante está dividido entre as redes estadual (31%), federal (10%) e municipal (3%), de acordo com os números do Censo Escolar de 2010 do Ministério da Educação (MEC). Segundo Marcelo Machado Feres, coordenador-geral de Planejamento e Gestão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, a concentração na rede particular se explica devido a matrículas no Sistema S em estados que, ao invés de ofertar a educação profissional com escolas públicas, optam por comprar vagas em escolas privadas.
Os números do Censo Escolar mostram, porém, que a maior alta de matrículas está acontecendo na rede pública. A rede federal foi a que registrou maior expansão entre 2002 e 2010, um crescimento de 114,2%. Segundo Feres, a meta é ampliar cada vez mais o número de matrículas na educação profissional por meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). O projeto de lei que cria o programa está em tramitação no Congresso e a meta do governo é chegar a 555 escolas técnicas profissionalizantes da rede federal ao final de 2014.
No Paraná, a rede estadual conta com mais de 100 mil matrículas na educação profissional, distribuídas em 170 municípios e em 339 estabelecimentos de ensino. Segundo a superintendente da Secretaria de Estado da Educação, Meroujy Cavet, o governo pretende ampliar o número de vagas e a expansão está em fase de diagnóstico. “A educação profissional possibilita a profissionalização do jovem para que possa ser inserido no mercado de trabalho qualificado e com acréscimo da escolarização”, diz, por e-mail.
Público-alvo
Da formação à capacitação
As salas de aula dos cursos técnicos têm sido frequentadas por alunos de diferentes idades e objetivos. Enquanto uns dão o primeiro passo em busca de uma formação profissional, outros aproveitam a oportunidade para se especializar no emprego que atuam há anos.
O publicitário Thiago Sganzerla, 21 anos, cursou o ensino profissionalizante quando estava no primeiro ano do ensino médio em busca da primeira oportunidade no mercado de trabalho. Através de uma amiga, ele ficou sabendo de um curso técnico de Publicidade e Propaganda, em Curitiba. O curso, integrado ao ensino médio, foi puxado, reconhece o aluno, mas logo surgiram as oportunidades. “O técnico te abre as portas mais cedo”, afirma.
Thiago optou por continuar sua formação em Publicidade e faz faculdade na área. Devido à educação profissional, ele saiu na frente na comparação com os colegas. “Nem tinha começado a faculdade e já estava trabalhando na área por ter o técnico. Se não tivesse o técnico, não teria conseguido o trabalho”, diz. No último trabalho, ganhava três vezes mais que outros estagiários.
A esposa dele, que fez curso técnico em Informática, não teve o mesmo benefício. Quando ela tentou uma vaga no ensino superior, sentiu falta de preparo para o vestibular e não foi aprovada no curso da Universidade Federal do Paraná. Para Thiago, é importante que o estudante tenha foco para pensar no futuro, pois o curso técnico “chega a ser mais puxado do que a própria faculdade”.
Reciclagem
Já o agente técnico de operações José Adilson Pereira, 47 anos, procurou a educação profissional para se especializar. Em 2010, ele começou o curso técnico de Edificações, ofertado gratuitamente no Centro Educacional de Ensino Profissionalizante, em Curitiba. “Quando se tem certa idade, a pessoa acaba se prendendo em algumas coisas, acreditando que não consegue. Não é bem assim”, diz.
José percebe que o conteúdo aprendido em sala de aula o está auxiliando no trabalho de conserto e manutenção de rede de águas na Sanepar, onde atua desde 2004. Mesmo com emprego e família, ele conseguiu aliar os estudos e irá se formar no primeiro semestre do ano que vem. “Vejo esse curso como um bom empurrão para as pessoas darem sequência na área técnica e no terceiro grau.”