O Pibid em Educação para formação cidadã – práticas interdisciplinares no ensino de Química
Atualizado em
Subprojeto de Química – IFPR, Campus Palmas
Alexandre Gomes
Professora Supervisora – Andrea Portto
Coordenadora de área – Professora Sandra Inês Adams Angnes Gomes
INTRODUÇÃO
O ensino de Ciências se torna mais aproveitável quando os professores se preocupam com a aplicação de novas práticas em sala de aula, pois a busca por uma pedagogia que proporcione aos alunos um conhecimento interdisciplinar é necessária para que os mesmos se tornem cidadãos críticos capazes de relacionar a sua realidade cotidiana com os conteúdos aprendidos em sala de aula. Desse modo, a elaboração de aulas práticas se torna uma potencial ferramenta para o ensino de ciências (LEFF, 2011).
Para a realização de práticas experimentais, a utilização de materiais alternativos que estão ao alcance tanto do professor quanto dos alunos para construção de dispositivos e equipamentos pode ser viável, caracterizando, assim, a tentativa de trazer aos discentes uma realidade concreta que antes poderia ser visualizada apenas na forma de imagens ou de esquemas em livros didáticos ou que ainda, muitas vezes, ficam apenas na imaginação, possibilitando assim, aos alunos, um maior desenvolvimento no âmbito social e educacional (SILVA et al., 2009).
Neste contexto, acreditamos que materiais alternativos podem ser utilizados como recursos para a construção de vários protótipos e dispositivos para o ensino de conteúdos importantes nas áreas da Ciência: Química, Física e Biologia. Por exemplo, estudos voltados ao tema água – importância do tratamento de água e a conscientização do consumo de água limpa, são de extrema importância e muito explorados no ensino de Ciências. Entretanto, na maioria das vezes o professor não conta com apoio de laboratório, equipamentos sofisticados, dentre outros recursos que poderiam contribuir com o desenvolvimento de sua aula, melhorando o processo de ensino e também de aprendizagem.
Podemos citar como exemplo, a dificuldade do professor usar um microscópio em sala de aula. Por outro lado, nada impede a construção de um microscópio alternativo como recurso pedagógico e seu emprego para realização de estudos biológicos que envolvem a visualização de fungos e bactérias ou para verificar a presença de micro-organismos em amostras de água potável, de torneira ou até mesmo de amostras coletadas em água de sanitários. Prática que pode despertar o interesse dos discentes, motivá-los para participação da aula, além de conscientizá-los sobre a importância do tratamento e consumo de água potável.
Assim como Carmo et. al., (2003) acreditamos que quando a teoria está relacionada a prática e esta é bem elaborada, permitirá visualizar macroscopicamente e microscopicamente estruturas antes discutidas apenas teoricamente, proporcionando aos alunos uma grande evolução em seu conhecimento. Contudo, o Ensino de Ciências, muitas vezes é pouco atrativo e visto pelos alunos como um conhecimento muito teórico, muito distante da realidade a qual pertencem, por isso, algo pouco interessante em ser estudado (WELKER, 2007).
Neste sentido, este trabalho que foi aplicado em formato de oficinas para estudantes do Ensino Médio, participantes do PIBID, teve como objetivo desenvolver uma prática interdisciplinar, sobre o tratamento de água, construção e utilização de um microscópio alternativo.
METODOLOGIA
Em um primeiro momento, discutiu-se sobre a importância do tratamento de água, os possíveis microrganismos encontrados na água não tratada, como estes seres microscópicos podem ser visualizados utilizando instrumentos com lentes de aumento e as principais doenças associadas a eles.
No segundo momento, fez-se uma explanação sobre o funcionamento do tratamento convencional da água utilizado em ETAs (estação de tratamento de água). Também foram explicadas todas as etapas do processo de tratamento de acordo com a Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) e os fenômenos que ocorrem na coagulação, floculação, decantação, desinfecção, fluoretação e correção de pH.
Na sequência os alunos trataram uma amostra de água contaminada utilizando uma ETA alternativa, que foi construída de acordo com o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=hf7VST5aHzo de autoria de: GEPEQ IQ-USP.
As imagens da Figura 1a e 1b mostram o momento que os estudantes participaram da oficina sobre o tratamento da água contaminada e a utilização de filtro de carvão alternativo.
Figuras 1a e 1b. Estudantes participantes da oficina sobre tratamento de água
Em seguida, com a utilização de um microscópio alternativo, construído utilizando uma caneta lazer e um conta gotas, os alunos conseguiram visualizar os microrganismos existentes na amostra de água poluída (Figuras 2a e 2b) e, na amostra purificada anteriormente (Figura 3).
Figuras 2a e 2b. Visualização de amostra de água contaminada com terra.
Figura 3. Visualização de amostra de água antes de ser contaminada
Explicou-se o funcionamento do microscópio alternativo e a capacidade deste ampliar a imagem de uma gota de água. Além disso, explanou-se a importância do tratamento e informações sobre
alguns corpos biológicos que existem na água não tradada e doenças associadas a eles: Entamoeba hystolítica (amebíase, disenteria amebiana); Giardia lamblia (giardíase) (DE FREITAS, 2010).
Vários alunos se mostraram interessados na prática, alguns ficaram impressionados com a capacidade da caneta laser de ampliar uma imagem igual a um microscópio.
O ministrante da oficina também precisou responder vários questionamentos durante a oficina: a)”Por que o filtro de carvão reteve as impurezas da água?’’; b)”Por que o laser deve ser verde para funcionar?”; c)”A areia no filtro não vai sujar mais ainda a água?”, entre outros.
Na sequência, tendo em vista que a purificação de uma pequena amostra de água contaminada levou 20 minutos para ser tratada e consumiu uma série de reagentes e como o objetivo de conscientizar os alunos e despertar sua criticidade, direcionou-se duas questões para reflexão: 1)”Levando em conta que um processo convencional de tratamento de água leva muito tempo, há um grande gasto de energia, dinheiro, consumo elevado de reagentes e no final, muitas vezes o processo é repetido e produz resíduos com lamas e metais potencialmente tóxicos, todo este processo é viável?”; 2) “Há necessidade de pesquisas, em universidades, que busquem facilitar e agilizar este processo de tratamento?”
A prática desenvolvida nesta oficina mostrou um forte foco interdisciplinar e promoveu relações teórico-práticas com o cotidiano, questões que muitas vezes são trabalhadas de forma isolada. O trabalho também promoveu a interação entre o professor, o aluno e o dia-a-dia, fazendo com que o processo de ensino e aprendizagem fosse direcionado a formação cidadã.
CONCLUSÃO
A utilização de um microscópio alternativo foi capaz de mostrar aos alunos uma realidade que antes nunca fora vivenciada por eles, assim, agregando mais valor ao conteúdo e despertando questionamentos e o espirito crítico.
O tratamento físico e químico de uma amostra de água contaminada permitiu explorar conceitos clássicos da Química, relacioná-los com a prática, mostrando a importância dessa Ciência.
De forma geral, oficina desenvolvida com os estudantes da Educação Básica abordando o Tema àgua integrado com a Química, Física e Biologia, campos científicos interligados, possibilitou reflexões sobre a problemática ambiental a respeito da poluição da água, processo clássico de tratamento, pesquisa e política, bem como assuntos do cotidiano, como higiene e a importância do consumo de água potável, contribuindo para uma melhor formação cidadã dos participantes.
Além disso, o planejamento dessa oficina e o seu desenvolvimento com estudantes, oportunizou que o estagiário responsável, iniciasse à docência de forma dinâmica, motivando-o para trabalhos integradores voltados para a formação cidadã.
AGRADECIMENTOS
Pibid – Capes
IFPR – Campus Palmas
Colégio Estadual Sebastião Paraná
REFERÊNCIAS
CARMO, D.J.; SILVEIRA, L.R.; SPÓSITO, R.C.A. Aula experimental: a importância e a utilidade do microscópio para o ensino médio. 2013.
LEFF, Enrique. Complexidade, interdisciplinaridade e saber ambiental. Olhar de professor, v. 14, n. 2, p. 309-335. 2011.
SILVA, D.R.M.; VIEIRA, N.P.; OLIVEIRA, A.M. O ensino de biologia com aulas práticas de microscopia: uma experiência na rede estadual de Sanclerlândia–GO. III EDIPE- Encontro Estadual de Didática e Prática de Ensino. p. 1-4, 2009. Goiânia. [Anais Online]. Disponível em: <https://www2.unucseh.ueg.br/ceped/edipe/anais/IIIedipe/pdfs/2_trabalhos/gt04_fisica_quimica_biologia_ciencias/trab_gt04_o_ensino_de_biologia_com_aulas_praticas.pd> Acesso em: 26/09/2019.
GIORDAN, M. O papel da experimentação no ensino de ciências, Química Nova na Escola. 10, 43-49, 1999.
DE FREITAS, Adiéliton Galvão et al. Recirculação de água de lavagem de filtros e perigos associados a protozoários. Eng Sanit Ambient, v. 15, n. 1, p. 37-46, 2010.