Lançamento do livro “Filosofia, Política e Educação: leituras de Antônio Gramsci” – Campus Paranaguá

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Lançamento do livro “Filosofia, Política e Educação: leituras de Antônio Gramsci”

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Na segunda-feira do dia 15 de setembro, o auditório do campus Paranaguá do Instituto Federal do Paraná sediou o lançamento do livro “Filosofia, Política e Educação: leituras de Antônio Gramsci” organizado pela Prof.ª Dr.ª aposentada da UFPR e atual docente da UTP Anita Schlesener, referência em Gramsci no Brasil.

O lançamento da obra, que reúne textos de outros 11 pesquisadores de renome nacional e internacional, contou ainda com a presença da Prof.ª Dr.ª Maria de Fátima Pereira (UTP), do Prof. Dr. Marcos Vinícius Pansardi (IFPR) e do Prof. Dr. Geraldo Balduino Horn (UFPR). Esteve presente como debatedor no evento o Prof. Dr. Sidney Reinaldo da Silva (IFPR-UTP), docente do Campus Paranaguá.

As colocações de Maria de Fátima Pereira se direcionaram no sentido de pensar as atuais políticas de educação profissional à luz do pensamento gramsciano, onde trouxe a questão da importância da educação para a classe trabalhadora, o debate em torno da dúvida quanto à efetivação das escolas de educação profissional face ao cansaço dos trabalhadores ante à luta pela sobrevivência,  o ceticismo e a desconfiança no modelo escolar burguês para a formação da classe trabalhadora, o reconhecimento do necessário distanciamento da escola burguesa e de seus objetivos, e as possibilidades, conteúdos e métodos que cabem à uma escola concebida para os trabalhadores. Neste sentido, a autora analisou os avanços e problematizou os limites da legislação nacional acerca da formação profissional e para o trabalho na Constituição de 1988, na lei 9.394/96, no Decreto 2.208/97, no Decreto 5.154/04 e na Lei 11.982/04.

A fim de entender o movimento do real enquanto estrutura na qual a aparência, em sua constituição, esconde a relação de forças que caracterizam uma sociedade de classes, Anita Schlesener retomou alguns aspectos da hegemonia em Gramsci, onde articula economia, política e filosofia, articulação esta que se apresenta como base teórico-gnosiológica para compreender as relações de hegemonia no que se refere ao movimento econômico, social, político e ideológico das mesmas, bem como seus desdobramentos nas diversas instâncias da vida individual e coletiva nacional e internacional. A educação, para Schlesener, consiste na compreensão desse movimento estruturado de uma determinada sociedade em um determinado momento histórico, isto é, é na compreensão do presente em suas lutas e contradições internas que forma-se a subjetividade, na medida em que a situação no mundo se explicita na compreensão da constituição das lutas pela hegemonia ou de como se articulam as dimensões econômica, política e ideológica; em outras palavras, a subjetividade se forma no movimento de adaptação ao contexto social e na compreensão do conjunto de relações em sua dinamicidade e contradições que permitem condições objetivas de mudança e liberdade.

O professor Marcos Pansardi trouxe a discussão acerca da educação no governo Lula e a relação entre as políticas públicas educacionais no Brasil e a influência do Banco Mundial sobre estas mesmas políticas, contrapondo-se às interpretações dominantes sobre os governos petistas que negam a aplicabilidade dos conceitos gramscianos – especialmente o de revolução passiva -, e para as quais não há um projeto nacionalista em desenvolvimento no
Brasil. Para o pesquisador, o Banco Mundial, assim como outras instituições transnacionais, entende que o Brasil, como também outros países periféricos, se insere na divisão internacional do trabalho como produtor de matérias-primas, produtos agrícolas primários e produtos industrializados de baixa qualificação tecnológica. E é dentro destes limites que está a formação do trabalhador nacional, pois não é à toa a prioridade da educação fundamental tendo em vista que o combate à pobreza se caracteriza essencialmente pela formação de trabalhadores. O Banco Mundial, dentro da lógica econômica que permeia as orientações educacionais, entende que a educação deve servir à modernização das economias periféricas adaptando-as aos novos cânones da globalização, tendo críticas bem definidas ao caráter teórico e humanístico das pedagogias desvinculadas dos processos produtivos. Por este motivo, de F.H.C. a Lula, vê-se o avanço da iniciativa privada no ensino superior e o rompimento da lógica das IES públicas, indo os pobres estudar nas universidades privadas que, operando na lógica empresarial, formam profissionais para a realidade do mercado.

Para Geraldo Balduino Horn, o pensamento gramsciano permite construções teórico-práticas de enfrentamento político às tendências que contingenciam a escola pública, às necessidades do capital flexível e mundializado, assim como também como às exigências paradoxais do Estado contemporâneo em suas feições atuais. A filosofia da práxis de Gramsci, segundo Horn, ao combinar elementos de dialeticidade radical a elementos de filologia clássica, permite instrumentos e conceitos estratégicos para descrição da realidade e, sobretudo, para sua superação no horizonte da cultura e da política. Enquanto interpelantes às consciências dos sujeitos que desejam compreender a si e ao mundo, a filosofia práxica gramsciana cria possibilidades de ações culturais afeitas ao projeto de emancipação humana. Nesse sentido, pode-se pensar a escola unitária, isto é, da não dicotomização da educação realizada, como no encontro das possibilidades transformadoras da realidade, muito embora esta deva ser considerada como proposta transformadora erigida no seio de uma sociedade concreta constantemente tensionada para a conservação do estabelecido pela ordem capitalista. Horn observa ainda que na contemporaneidade a dicotomia entre pensar e fazer está menos determinada em virtude das exigências do capital que demandaram, especialmente pela disseminação mais intensa das Novas Tecnologias de Comunicação e informação (NTIC), profissionais onde as habilidades operatórias deveriam ser substituídas por habilidades gerais que mesclariam teoria e prática. Embora teoria e prática se aproximem, a emancipação ainda é limitada aos interesses do capital.  Nesse sentido, as restrições ao conhecimento desinteressado são imensas, senão como fontes de informação, e à escola e à educação, como importantes locus de produção e disseminação de bases do projeto de transformação, devem ser destinados as maiores preocupações e cuidados por parte daqueles que nela atuam.

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