Uma nova escola possível
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Um novo modelo de escola, um novo rumo para a educação. Dois sonhos que parecem distantes para muitos que trabalham nesta área. Pareciam. A experiência de professores do Instituto Federal do Paraná (IFPR) na Finlândia, pelo programa Professores para o Futuro, está tentando mudar essa realidade.
Maristella Gabardo é professora de Espanhol do Câmpus Curitiba e esteve na Finlândia – país nórdico situado no norte da Europa, com aproximadamente 5,3 milhões de habitantes – de agosto a dezembro de 2014, estudando na Tampere University of Applied Sciences (TAMK). Christiano Pitta, professor no Curso de Agronomia do Câmpus Palmas, esteve na Häme University of Applied Sciences (HAMK), no mesmo período.
Com a ideia de conhecer mais os alunos e propor um ensino colaborativo, Maristella está aplicando uma proposta diferenciada de conteúdos e aulas para 4 turmas, cerca de 150 alunos, no componente curricular de Espanhol: a ementa e as aulas são feitas pelos próprios alunos, a nota é coletiva e o ensino colaborativo.“Muitas vezes, a educação atual repete matérias, os conhecimentos não se ligam, os alunos são passivos, não há um conhecimento amplo”, declara a professora.
Ela afirma que é preciso conhecer o aluno, suas habilidades e saber quem ele é. Em uma de suas aulas de Espanhol, um estudante deu uma aula de tango aos colegas. A partir disso, houve uma integração de matérias: o professor de Educação Física deu o suporte, o de Geografia trabalhou cidades com referência a Buenos Aires, e assim por diante.
A colaboração, em substituição à competição, é outro item dessa proposta de ensino. A docente lembra pontos da educação finlandesa que a inspiraram. “Na Finlândia todas as escolas precisam ser de excelência, não há ranking e existe grande espírito de coletividade. Já no Brasil, em muitos casos, temos outra situação: a escola acaba funcionando como um sistema opressor, o ranking desestimula e a nota individual ajuda a segregar a turma”, diz. Como defesa à nota coletiva, a professora lembra que, no mundo do trabalho, não se trabalha isoladamente, trabalha-se em equipe. Em sua visão, esse sistema pode ser replicado na fase acadêmica: “É interessante perceber como agora eles se ajudam, pois sabem que precisam do colega para conseguir a nota. O que antes era um ‘Professora, fulana não está fazendo’ virou um ‘Fulana, vem fazer conosco’, e com isso os alunos se motivam a estudar e produzir o que gostam dentro da coletividade”.
Neste semestre, Gabardo pediu aos seus alunos que desenvolvessem um plano de estudo e realizassem uma pesquisa relacionada a assuntos de seu interesse. Com mediação do professor, eles se organizam em equipes, juntam seus trabalhos e apresentam aos outros. “Atualmente, não dá mais para negar a importância da internet, então é importante que a escola ensine como o aluno pode utilizar este recurso, e – mais uma vez – o professor atua como mediador, como guia, e não como conteudista”, explica.
Os alunos estão aprovando a mudança. Carolina Arenas, do 2º ano do Curso Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio, ressalta o fato de as matérias serem interligadas e que é preciso perceber isso para conseguir usar os conhecimentos aprendidos. Especificamente no Espanhol, a estudante lembra que só estudar gramática não é atrativo, mas ler sobre assuntos dos quais gostam na língua é muito melhor, e assim acabam aprendendo duas coisas ao mesmo tempo. “Eu acho que essa forma de aula é a melhor forma de se ensinar. Se o professor consegue que estudemos sozinhos, o aprendizado será muito mais eficiente, porque cada um aprende de forma diferente. Quem prefere apenas conversar sobre a matéria com o professor tem essa possibilidade, quem prefere ver videoaulas, ou ler livros, também pode fazê-lo, tornando tudo mais divertido e simples”, finaliza.
Para os professores que estão nessa empreitada junto com Maristella não é diferente. Daniella Rosa, Professora e Coordenadora do Curso Técnico em Mecânica do Câmpus Curitiba, afirma que, apesar de o trabalho ter aumentado, os alunos estão mais empolgados com as aulas, porque começaram a enxergar que os conteúdos mais diferentes podem ter algo em comum e passaram a enxergar o todo. “O mais interessante é que agora eu recebo informação, o aluno está me ensinando e ensinando os colegas, com assuntos que ele achou, pesquisou e quer compartilhar. Essa troca entre professor e aluno é uma das coisas mais gratificantes para nós, porque no momento inicial nós perdemos o domínino da sala de aula, mas também ganhamos professores que nem sabíamos que tinham esse potencial”, declara.
A realidade finlandesa
O professor Christiano Pitta aprovou a estada na Finlândia e se impressionou com a realidade que encontrou no país. De acordo com o professor, o que tem lá existe no Brasil também, mas a principal diferença é que na Finlândia se gasta mais tempo no planejamento das ações e se costuma cumprir de forma fidedigna o que foi planejado. Outra observação importante ressaltada pelo professor se refere à organização da educação. “O professor é uma figura extremamente valorizada e bem remunerada, e as condições de trabalho são fantásticas. As coisas são muito bem pensadas e projetadas, desde iluminação e mobílias de prédios e salas de aula – todos públicos – até os materiais pedagógicos, que vão de livros a equipamentos eletrônicos, os quais estimulam a criatividade e o aprendizado dos alunos”. O docente finaliza afirmando que os resultados positivos do modelo de educação finlandês baseiam-se numa construção de longo prazo: “as crianças, quando iniciam sua vida escolar, são extremamente estimuladas, e o que vemos no decorrer dos anos é uma continuação deste planejamento e os bons resultados da base”.
Gabardo tem propagado a ideia em outros câmpus do IFPR e, recentemente, esteve em um evento em Recife junto com Pitta para contarem suas experiências na Finlândia e como estão utilizando os conhecimentos aqui no Brasil (veja no site da Reitoria e no do MEC). Atualmente, o IFPR tem um professor no país (confira no site da Reitoria).
Como diria Paulo Freire, educador que inspira os profissionais da área na Finlândia e no Brasil: “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática”.]]>