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Nem a chuva forte em Curitiba impediu que Jurandir chegasse para nossa entrevista. Esse é somente mais um desafio enfrentado diariamente, dentre todos os que ele está disposto a vencer. Gertrudes, o nome dado a sua cadeira de rodas, é a companheira nessa rotina de obstáculos e vitórias.
Aos 30 anos, Jurandir decidiu dar uma virada em sua vida: “Eu falei ‘já que não posso mais trabalhar com o físico, eu preciso trabalhar com a cabeça. Eu preciso trabalhar com o cérebro, mas para eu trabalhar com o cérebro, eu preciso estudar. Eu preciso voltar para o banco da escola”. Assim, ele terminou a educação Básica e entrou na faculdade.
Seu primeiro ato na luta pelos direitos das pessoas com deficiência aconteceu durante a graduação: ele foi o primeiro estudante cadeirante de sua faculdade e auxiliou a instituição com as questões de acessibilidade. Com ele, a faculdade fez alterações em sua estrutura física para construir rampas e banheiros acessíveis, por exemplo. Ele ajudou a promover condições melhores para os próximos estudantes com deficiência.
Em 2014, foi empossado no IFPR, primeiramente no cargo de assistente em administração e, desde 2022, como administrador, o que só foi possível por seu diploma em Administração. Começou na instituição na Pró-reitoria de Administração (Proad). Em 2017, começou seu percurso na Pró-reitoria de Extensão, Pesquisa, Pós-graduação e Inovação (Proeppi). No Instituto, Jurandir atua no financeiro, mas seus conhecimentos vão além. Ele é um profissional completo na área administrativa, porém sua vontade de aprender o levou a ter contato com pesquisa, extensão e inovação, por exemplo.
Entretanto, isso ainda não era suficiente para ele: “Chegou um ponto em que eu falei assim ‘por que não fazer um mestrado?’”. Em 2024, tornou-se mestre pelo ProfEPT com uma pesquisa sobre inclusão de pessoas com deficiência no IFPR: “queria descobrir se o Instituto vai além das normativas”. Na dissertação, ele investigou os efeitos práticos destas diretrizes. “Queria saber se o Instituto dava a garantia do acesso e permanência à pessoa com deficiência, para que ela conseguisse chegar no final do curso com a mesma qualidade que os outros”. Jurandir descobriu que o IFPR tem uma política efetiva de inclusão, como, por exemplo, as cotas no processo seletivo de estudantes.
Porém ainda há necessidade de melhorias. Jurandir destacou que o pertencimento é algo fundamental a ser alcançado no IFPR, pois a pessoa com deficiência, seja estudante, seja servidor, quer “se sentir parte de alguma coisa, porque a gente é social. A gente precisa fazer parte”. Ele reflete: “você já pensou ter que ir todo dia para um lugar e você não se sentir parte daquilo? Como o Instituto faz para identificar isso? Como pode mudar esse sentimento na pessoa?”.
O servidor relatou em sua pesquisa que a maioria se sente pertencente, mas o IFPR deve olhar para aquela pequena parcela que não sente assim. Além da dissertação, Jurandir produziu um e-book “Educação Profissional é meu direito” e uma palestra com estratégias de inclusão para o ambiente acadêmico.
Jurandir, o primeiro membro da família a se tornar Mestre, agora é inspiração para os irmãos e sobrinhos. Um servidor orgulhoso de ser IFPR, um colega de trabalho para todas as horas, amado pelos familiares. Essas são algumas de suas facetas.
Em 21 de setembro, comemora-se o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. Esta data é importante porque, conforme Jurandir, inclusão precisa ser falada todo o dia até chegar o momento em que ela esteja dentro do nosso cotidiano, a ponto de “uma pessoa, ao abrir uma loja, lembrar que precisa colocar uma rampa, um banheiro adaptado, piso tátil, capacitar os funcionários para falar em Libras”. Ele reforça que esse é um exemplo de prática que inspira a sensação de reconhecimento e pertencimento. Jurandir conclui: “por isso que é importante toda essa luta e ter sempre um dia no ano para a gente lembrar disso, reforçar que é importante lutar pelos direitos. Que todo mundo tenha o direito de ser feliz, fazer o que quiser. Talvez eu não consiga, mas só o fato de eu saber que tenho direito, que posso tentar, já vale a pena, já me deixa feliz”.
Com a história de vida e o exemplo do Jurandir, o IFPR deseja homenagear todos os nossos estudantes e servidores com deficiência. Neste dia, é fundamental reconhecer a diversidade entre os seres humanos, a resiliência e a luta contínua por direitos, acessibilidade e inclusão. Enquanto a integração entre todas as pessoas não for um fenômeno natural e espontâneo, esta luta deve ser das pessoas com deficiência e de toda a sociedade.