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Dezenas de profissionais que atuam com extensão, pesquisa e inovação no Instituto Federal do Paraná se reuniram nesta semana em Curitiba para um encontro de formação e também de trocas de experiências com relação a temas vinculados à inovação. Um dos objetivos do evento foi o de intensificar o diálogo entre Reitoria e campi.
Segundo o Pró-Reitor de Extensão, Pesquisa e Inovação, Ezequiel Burkarter, o IFPR tem um histórico de iniciativas que visam estruturar os Núcleos de Inovação Tecnlógica (NITs), mas percebe-se, ainda, a necessidade de ações para fortalecê-los. E isso depende de esforços conjuntos entre Reitoria e campi.
Por isso, esse foi um dos objetivos traçados para o I Workshop de Inovação – IFPR, realizado nesta terça (26) e quarta-feira (27) em Curitiba. Participaram do evento cerca de 50 coordenadores de NITs e coordenadores de extensão e pesquisa de todos os campi.
“Nosso intuito, com o workshop, foi o de iniciar um processo de discussão coletiva entre os coordenadores que estão nos campi e na Reitoria, visando consolidar a atuação dos NITs”, afirma Burkarter.
Segundo ele, essa consolidação envolve responder questionamentos como “para quê” e “para quem” o Instituto deve produzir inovação e de que maneira essa produção pode perpassar o processo de ensino-aprendizagem.
“O intuito é que os campi participem mais e comecem a indicar demandas, que a Reitoria também aponte outras demandas e que desse diálogo surjam consensos; ou seja, a ideia é promover a discussão, que precisa ser de mão dupla, e essa interação passa, localmente, pelos NITs”, explica o pró-reitor.
Durante os debates realizados no evento, representantes dos campi levantaram questionamentos sobre as formas como o Instituto deve proceder no desenvolvimento de políticas de inovação. Um deles, o coordenador do NIT de Jacarezinho, professor Welk Daniel, lembrou que a produção de inovação é feita cotidianamente. “Sou de um campus que tem cerca de 45 docentes e mais de 500 estudantes que produzem inovação todo dia, mas como agregar, como concentrar e como transformar essas invenções em Inovação?”, questionou, lembrando que, apesar de haver ações como a Feira de Inovação Tecnológica do IFPR (IFTech) e o Seminário de Extensão, Pesquisa e Inovação (Se²pin), que incentivam a produção em alta escala de Inovação, há, ainda, muito potencial represado nos campi. “Precisamos expandir essa inovação para fora dos portões do campus, para chegar à comunidade e à sociedade”, diz.
O NIT
A professora Luciana Cavalcanti de Azevêdo, coordenadora do NIT do IF Sertão Pernambucano, compartilhou as experiências desenvolvidas na sua instituição. Ela contou que as empresas ou a comunidade levam o problema para o IF, que, por meio do NIT, encaminha o assunto para o grupo de pesquisa afim. Os professores decidem se aceitam ou não o desafio – na maioria das vezes, segundo a professora, os problemas são aceitos. Com os alunos, os docentes desenvolvem a solução tecnológica ou social e o devolvem ao solicitante, em um processo que envolve estudantes e comunidade. “Ter inovação não é só patentear, é trazer solução para determinada empresa ou comunidade, que pode gerar patentes, direitos autorais, livros, dias de campo… Tudo isso pode ser inovação tecnológica”, afirma.
Incubadora
O NIT do IF Sertão Pernambucano possui, ainda, a Incubadora do Semi-Árido (ISA), que acolhe empreendedores da região que desejam abrir empresas. O IF fornece não apenas o local para o desenvolvimento do projeto, mas também auxilia com orientação, planejamento, entre outras informações necessárias para que o negócio comece a funcionar e ganhe autonomia. Desde 2011, a ISA – e as estruturas anteriores que a antecederam – já tiveram 29 empresas pré-incubadas, 14 incubadas e cinco empresas graduadas (que já saíram do processo de incubação).
Hotel Tecnológico e outras iniciativas
Outro exemplo discutido foi o da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). No âmbito do Programa de Empreendedorismo e Inovação (Proem), a Universidade possui cinco incubadoras e oito hotéis tecnológicos, estes últimos considerados espaços de pré-incubação. Enquanto as incubadoras acolhem empresas que estão sendo criadas, normalmente de ex-alunos da instituição, os hotéis tecnológicos são voltados a projetos, normalmente de conclusão de curso (TCC), com potencial de serem continuados em uma empresa. A ideia é que os projetos dos hotéis possam se transformar em empresas incubadas, como afirma a professora Silvana Weber, coordenadora da Incubadora de Inovações da UTFPR (IUT): “Queremos que os pré-incubados e os incubados se arrisquem e desbravem as possibilidades, e para isso oferecemos estrutura física, técnica e também um time de professores mentores com experiência na criação de empresas para contribuir no que for necessário”.
Cooperativas
A Universidade Federal do Paraná (UFPR) possui experiência semelhante, desenvolvida, porém, a partir de outro ponto de vista. Chamada de Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP), essa iniciativa surgiu das discussões universitárias e sindicais sobre a crise do mundo do trabalho. “Há maneiras diferentes de empreender, e nós acreditamos que há outras lógicas, outras formas de se organizar e de nós nos organizamos coletivamente”, explica Denys Dozsa, professor da referida universidade.
Segundo ele, a ITCP associa princípios da Economia Solidária, trocando competição por cooperação, por solidariedade, igualdade, ou seja, altera os princípios que norteiam a lógica de tomada de decisão, o que leva a outra racionalidade. “Não precisamos só competir; podemos agrupar as pessoas, pois não há uma única forma de empreender. Pode-se empreender coletivamente, com um compromisso com o outro”, diz.
O professor aponta que a filosofia que criou os institutos federais propicia o desenvolvimento de projetos como esse e como demais iniciativas que estão sendo desenvolvidas no bojo das discussões sobre Economia Solidária, incubadoras populares e extensão universitária. “A natureza dos institutos é diferente da natureza das universidades: os IFs são escolas vinculadas ao mundo do trabalho numa perspectiva radicalmente democrática e de justiça social, voltadas, principalmente, à formação da cidadania, e não de consumidores ou produtores”, comenta. “A tecnologia pode ser desenvolvida na ponta, nos municípios onde os campi estão inseridos; as questões tecnológicas estão no cotidiano do ‘fazer a educação’, e todos que participam do IF fazem educação”, afirma. Segundo ele, o processo de incubação é um processo de educação continuada, um processo educativo contextualizado, que tem tudo a ver com a proposta dos IFs.
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