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[Notícia publicada dia 13 de junho de 2016] Elas são reconhecidas nos corredores do Campus Curitiba e apontadas pelos colegas como “a mulherada da robótica”. No segundo ano como alunas do IFPR, cursam as disciplinas do primeiro ano do curso Técnico em Mecânica na forma de oferta integrada ao Ensino Médio. As estudantes Maiara Santos, Julia Gonçalves e Eleonora Avello encontraram na robótica uma oportunidade para adquirir mais conhecimento, viver novas experiências e sonhar com carreiras pouco usuais. “Quero terminar o Ensino Médio e voltar para a Itália, cursar Engenharia Mecânica ou então Astrofísica”, planeja Eleonora, que nasceu no país e veio aos nove anos de idade para o Brasil. “Temos praticamente o mesmo sonho. Eu quero cursar Engenharia Mecânica ou Aeroespacial e estudar no Canadá ou no Japão”, afirma Julia.
Foram caminhos distintos que fizeram com que as estudantes chegassem à robótica. Eleonora conta que conheceu a área e o Instituto Federal do Paraná ainda durante o Ensino Fundamental, no Colégio Estadual do Paraná (CEP). Em um evento municipal de robótica, conversou com estudantes do Campus Curitiba que apresentavam seus robôs. Daí nasceu o interesse pela área e pela instituição e, em 2015, ingressou no IFPR, no curso Técnico em Informática. Julia e Maiara ingressaram no mesmo ano, no curso Técnico em Contabilidade. Conheceram o projeto de extensão já nos primeiros meses, em sala de aula, e a ele se juntaram como voluntárias.
Foi no âmbito do projeto de extensão que as três se conheceram a formaram a equipe Hakuna Matata. Desde então, as meninas já colecionam oito participações nas etapas da Olimpíada IFPR de Robótica (que serve como preparação para a Olimpíada Brasileira de Robótica, a OBR), nas fases estadual e nacional da OBR e na competição mais recente, o Desafio de Tecnologia e Inovação, onde conquistaram o primeiro lugar na categoria “Seguidor de Linha”.
Mudança de rumo
O interesse pela robótica e a vontade de aperfeiçoar Pumba, o robô com que a equipe participa das competições, levou as estudantes a migrarem para o curso Técnico em Mecânica, em 2016, também na forma de oferta integrada ao Ensino Médio. “Buscamos o curso Técnico em Mecânica porque percebemos que não apenas a programação, mas também a forma como construímos o robô tem influência direta no desempenho durante as provas. Assim, fomos para o curso de Mecânica”, explica Maiara, a mais falante do grupo.
Hoje, as estudantes dedicam cerca de 20 horas semanais às atividades do projeto de extensão e na preparação para os campeonatos. Maiara e Eleonora são bolsistas e auxiliam professores e estudantes das escolas estaduais e municipais da cidade de Curitiba no desenvolvimento de seus próprios projetos de robótica educacional e também na preparação para a principal competição de robótica do país. “Nas semanas que antecedem as provas da OBR, este laboratório fica uma loucura”, afirma Maiara. Isso porque alunos de colégios municipais e estaduais buscam o projeto de extensão do Campus Curitiba para sanar dúvidas e também para testar os equipamentos na pista de provas montada no laborátório.
Os dias que antecedem as provas também são agitados para as integrantes da equipe Hakuna Matata, que se dedicam a programar o robô e efetuar melhorias no equipamento. De acordo com as estudantes, os bons resultados já obtidos em competições anteriores são o estímulo para conquistar melhores colocações. “Quando nosso desempenho é bom, encontramos o sentido para todo o trabalho que tivemos antes da competição”, afirma Eleonora. E com as conquistas que saltam cada vez mais aos olhos, vem a responsabilidade. “Nas competições, as outras equipes ficam de olho no nosso desempenho. Muitos já disseram que se inspiram no nosso trabalho”, revela Julia.
Projeto de robótica educacional promove a interdisciplinaridade e o desenvolvimento pessoal
Pelo projeto de extensão “Desenvolvimento de Oficinas de Robótica Educacional para Professores das Escolas da Cidade de Curitiba” já passaram estudantes de quase todos os cursos técnicos oferecidos pelo IFPR. Hoje, o projeto conta com a participação de 3 estudantes bolsistas e 21 voluntários, organizados em seis equipes.
O professor Marlon de Oliveira Vaz, coordenador do projeto, explica que o envolvimento dos estudantes faz com que eles busquem nas diversas disciplinas do currículo do Ensino Médio regular e da carreira técnica as soluções para o desenvolvimento de robôs capazes de cumprir as tarefas nas provas das quais participam. “Os professores da área da Física são os mais requisitados”, revela. “Quando trocamos a roda do robô, por exemplo, precisamos levar em conta o atrito que ela terá com o material de que é feita a pista ou então como o tamanho dela vai influenciar na velocidade ou na força do robô”, exemplifica Maiara.
Mas não são necessários apenas conhecimentos nas áreas exatas. O professor Marlon cita as provas da First Leo League (FLL), que exige que os estudantes elaborem relatórios, ou então as habilidades de planejamento e gestão, que são necessárias na preparação das equipes para a prova.
No Laboratório de Robótica, um quadro branco registra as atividades que os membros de cada equipe devem realizar tanto para manter o espaço em ordem quanto para o desenvolvimento dos robôs. De acordo com Maiara, a organização ajuda a alcançar resultados melhores: “Já percebemos que quanto mais tempo trabalhamos na programação do robô antes da competição, atingimos melhores resultados”, explica.
Os estudantes ligados há mais tempo no projeto, em especial os bolsistas, também são responsáveis por guiar os colegas recém-chegados. “São eles os responsáveis por disseminar o conhecimento que aprendem aqui entre os colegas mais novos”, afirma o professor Marlon.
Maioria masculina não intimida estudantes
Na etapa nacional da OBR, realizada entre os dias 28 de outubro e 1º de novembro de 2015 na cidade de Uberlândia (MG), a equipe Hakuna Matata era a única formada exclusivamente por estudantes do sexo feminino. O mais comum, nessas competições, é que as equipes masculinas ou então mistas participem. “Mesmo nos times mistos, percebemos que as meninas possuem um papel menor na equipe”, revela Maiara.
As estudantes afirmam que houve, sim, episódios em que a habilidade do grupo foi posta em dúvida pelo fato de serem garotas. “Certa vez, um estudante de outra instituição de ensino zombou de nós, afirmando que uma equipe formada por meninas da área da Contabilidade não seria capaz de programar um robô”, relata Maiara. Situações como esta, no entanto, não parecem afetar mais as estudantes. “Já me estressei tanto com esse tipo de coisa que hoje já bloqueei”, garante Eleonora.
Para Marlon, o projeto de extensão busca incentivar a participação de garotas na robótica. “As mulheres podem alcançar os mesmos objetivos que os homens. Queremos mostrar que qualquer pessoa pode ser o que quiser em qualquer área”, afirma o professor.