NEABI do Campus Palmas destaca que o combate ao racismo deve ir além do 20 de Novembro
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Representantes do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas do IFPR reforçam importância do Dia da Consciência Negra, mas lembram que cultura antirracista deve ser construída em todos os dias do ano
Nesta quarta-feira, 20, se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra. Também conhecida como Dia de Zumbi dos Palmares, a data é uma referência na luta anti-racista brasileira, pois destaca a importância do líder quilombola morto nesta mesma data, em 1695, e reforça a importância da cultura negra para a cultura nacional. A partir deste ano, a data será feriado em todo o país.
No Brasil, cerca de 55% da população se declara parda ou preta, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Apesar disso, o Brasil continua sendo um país intensamente racista. Dados da pesquisa Percepções sobre o racismo no Brasil, realizada pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (IPEC) indicam que 51% da população já presenciou atos ofensivos contra pessoas pretas.
Diante desse cenário, o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas do Campus Palmas (NEABI) ressalta a importância de a sociedade lutar ativamente contra o racismo. “É fundamental lembrar que o 20 de Novembro não deve ser visto como o único momento para refletir sobre o racismo. Não podemos transformar essa luta em algo banal ou folclorizado, como infelizmente acontece em algumas instituições de ensino. Precisamos implementar e cumprir a Lei 10.639/2003, que determina o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas”, explica Maria Isabel Cabral da Silva, professora, membro do Neabi e integrante do Coletivo Nacional de Educação Escolar Quilombola (CONAQ) e co-criadora do Movimento de Mulheres Quilombolas do Paraná (MMQPR).
No IFPR, o Neabi tem o papel de fomentar a formação, a produção de conhecimentos e a realização de ações que contribuam para a valorização da história das identidades e culturas negras, africanas, afrodescendentes e dos povos originários. De acordo com a professora Cláudia Aparecida dos Santos, representante do Núcleo no Campus, a existência do Neabi se mostra essencial, já que o Brasil foi um dos países com maior número de pessoas escravizadas entre os séculos XVI e XIX e foi a última nação da América a abolir a escravidão, apenas em 1888. “Esse processo de fim da escravidão não se deu de modo fácil, mas pela luta e resistência das pessoas negras que forjaram modos de existência, a despeito do que lhes foi dado, a desumanização”, frisou ela.
De acordo com a professora Cláudia, as questões que envolvem o racismo no Brasil se diferenciam de outras partes do mundo. “Por exemplo, se nos Estados Unidos o racismo acontecia de maneira institucionalizada, sancionado pelas leis, no Brasil se produziu um outro tipo de racismo estrutural, que acontece de maneira implícita, invisível. E o perigo está nessa invisibilidade, pois ela prejudica a formação da consciência da pessoa negra, das vítimas do racismo, ela desmobiliza as práticas antirracistas, interdita discursos e emoções. Em 2024, é possível notar que ainda estamos presos à inércia do mito da democracia racial. Então, entendemos o Neabi como um núcleo importante na construção da sociedade que queremos”, destacou.
Contribuições do Neabi para a sociedade
As atividades desenvolvidas pelo núcleo não se concentram apenas no ambiente acadêmico. Conforme a professora Márcia de Campos Biezeki, os representantes do Neabi participam de diversas ações externas, em escolas, entidades e demais espaços públicos. Para ela, são iniciativas importantes que ajudam a desenvolver um letramento anti-racista e a debater de maneira aprofundada a questão da pessoa preta no país.
“Temos uma agenda cheia ao longo do ano, pois nosso trabalho não se limita ao 20 de novembro. Buscamos abordar essas questões de forma contínua, promovendo discussões e reflexões o ano todo. Neste ano, por exemplo, destacamos nossa participação no encerramento de um evento da APAE de Palmas e em uma atividade no Instituto Federal Catarinense (IFC), em Abelardo Luz. Além disso, sempre contribuímos em eventos institucionais, oferecendo atividades e mantendo nossa sala aberta para iniciativas individuais e coletivas. Nosso trabalho é coletivo e diverso, e nos orgulhamos de contribuir com essas discussões, levando o debate para além dos muros da instituição e envolvendo a comunidade em geral”, detalhou.
Mais informações sobre as atividades desenvolvidas pelo Neabi podem ser encontradas no perfil do Instagram @neabi.palmaspr ou solicitadas pelo e-mail neabi.palmas@ifpr.edu.br.